9 de fevereiro de 2009

LeBron vs. Kobe



Começamos pelo basket. Desculpa se não lhe consigo chamar "basquete". Não terei problemas e chamar ao tennis de ténis e muito menos ao football de futebol, mas a palavra "basquete" faz-me uma certa confusão.

Sei também que as incidências do FC Porto - SL Benfica desta noite ainda estarão nas mentes e nas línguas de toda a gente e que as lágrimas do Federer ao perder com o Nadal também tiveram o seu tempo de antena.

Mas começo pelo basket, precisamente na noite em que os dois "nomeados" a melhor jogador da actualidade se enfrentaram num court (mais um inglesismo, live with it). Foi em Cleveland, na Quick&Loans Arena, que os LA Lakers de Kobe Bryant foram recebidos pelos Cavaliers de LeBron James, numa partida há muito esperada. Não vou manter o suspense (ah, um francesismo agora, vivez avec ça), os Lakers venceram 101-91, finalmente acabando com a invencibilidade de king James e os seus cavaleiros em casa.

Estará decidido, então? Kobe vence? Nem pensar.
O jogador que melhor interpreta o jogo moderno é LeBron James. É mais alto, mais atlético, o seu jogo é mais físico, fazendo dele um "falso base" (point forward, em inglês, explica melhor o que ele faz) com uma capacidade de explodir para o cesto que, não faltado também em Kobe Bryant, é a imagem de marca de king James. Dirão os mais entendidos que isso de postes e extremos com jeito para a bola talvez seja um tributo à figura de Magic Johnson e, principalmente, de Larry Bird. É verdade que foram estes dois titãs que trouxeram o jogo da antiguidade para a era moderna, mas o que James faz é diferente. O jogo dele reflecte tudo aquilo em que o basket se tornou: um campo de batalha onde se luta com a vida pela mais ínfima réstia de street cred, onde ser mais forte é mais importante até que ganhar. E é precisamente nisso que LeBron ganha. Os episódios são multiplos e variados, desde o jogo em que mandou calar a mãe, até ao outro jogo em que tranformou uma noite desinspirada numa exibição fenomenal só porque a namorada de um dos adversários o chateou. King James raramente perde e nunca, nunca perdoa.

E ainda assim, LeBron James é um exemplo de desportivo, mesmo dentro do campo. Se mandou calar a mãe foi porque mesmo ela não percebeu como ele que o jogo é uma luta mas que a luta se ganha enfiando a bola no cesto e não enfiando o punho na face do adversário, coisa que ele nunca, nunca faria. A sua relação com a mãe, solteira e adolescente quando o pequeno LeBron nasceu, não é fácil, mas a maneira como ele ultrapassou tudo isso é mais um testemunho à sua qualidade pessoal.

E para lá das 4 linhas, acima de tudo o resto, reúne uma característica essencial aos grandes ícones: não se leva demasiado a sério. Isso faz dele uma estrela dentro e fora do campo, capaz de se adaptar a todos os contextos que a cobertura mediática exaustiva exige destes atletas. E também nisso suplanta Bryant e as suas múltiplas idas ao tribunal.

Kobe, sem duvida um enormíssimo campeão, tem uma história que, de tantas vezes comparada com a de Micheal Jordan, quase mais parece um spin off de um argumento que está a deixar de cativar. Ele é o jogador que assume a responsabilidade do último drible, do último lançamento, do último ponto que dá a vitória. E nisso Kobe é e será melhor que James enquanto tiver forças para jogar. Mas isso já não é o jogo moderno. O jogo moderno é feito de contras e de afundanços (eu devia estar a escrever este post em inglês, too late now), mais do que de roubos, assistências e lançamentos a cair para trás a queimar o último segundo.

Nada disto quer dizer que o Kobe Bryant seja uma figura má ou um jogador ultrapassado e que o LeBron James um exemplo de cândida alvura, um farol do jogo para o futuro. Ambos têm personalidades multifacetadas e isso reflecte-se nas respectivas imagens públicas e ambos têm talentos infinitos.

Mas James vive num mundo que condiz mais com o mundo em que o resto de nós vive. É poderoso e perfeitamente imprevisível, como realça o guia do tour (um inglesismo vindo de um francesismo) aos balneários dos Cavaliers. E é por isso que eu acho que LeBron James é o melhor jogador de basket da actualidade.