20 de setembro de 2005

Amiga Colorida

O que é que nós somos?

Desde crianças que aprendemos o valor de um esgar envergonhado de alguém que gosta de nós,
o valor de um corpo tímido que vai ao encontro de outro para, na mesma fracção de segundo, não chegar a partir, humilhado pela vergonha de quase se ter permitido fazê-lo,
de uma mão que se junta e cobre e acaricia outra em nome da amizade, ou em nome do amor, ou em nome do que prefere não ter nome.

O que é que nós somos?

Depois aprendemos a vencer a barreira da vergonha e, mais cedo ou mais tarde,
numa primeira vez
o outro corpo vai ao encontro do outro,
e não voltamos atrás,
e deixamos o corpo falar pelo segredo da alma e mostramos, adolescentes, o que é gostar de alguém sem ter que lho dizer.

O que é que nós somos?

Depois fugimos às perguntas, ao desconforto das definições, e queremos a liberdade de falar com os olhos e com o corpo e de não ter que falar com a boca.
E queremos o que sempre quisemos desde que somos crianças e adolescentes,
que ela não se vá embora, que ela não seja livre, mas seja nossa.
E falamos. E perguntamos.

O que é que nós somos?

E numa noite de esperança, ou de alegria inebriante, ou de desespero,
numa noite de descoberta, ou de redescoberta,
em que os olhos falaram como quando eramos crianças,
em os corpos falaram como quando eramos adolescentes,
não posso fingir-me distraído.

O que é que eu sou, Miguel?
Sou a tua Amiga Colorida.

Carlos Miguel Maia