30 de dezembro de 2005

Vintage

A Sul de Nápoles, entre as ruínas da antiga cidade romana de Paestum e a vila de Agropoli existe uma extensão de areia calma e suave, moldada pelo mar tranquilo da costa de Amalfi.
O que surpreende que o mar é um assunto privado naquelas partes. Não é possível, por muito que se caminhe, encontrar uma entrada para o extenso areal branco porque todas as casas viram as costas à estrada e aos estranhos, como crianças mimadas que não querem partilhar o seu maravilhoso brinquedo.
Vontade contra vontade... É preciso arrombá-las, passar uma grade montada pela gente e fingir-se alheio aos mil olhares revoltados que nos fisgam.

Ainda tenho que me livrar de um último vestígio do Norte: a roupa pobre com que mal sobrevivi à exigência de uma noite passada na capital da moda, naquele areal, era como o traje de um rei caminhando no meio de uma selva de macacos nus.
À beira do mar encontro o refúgio que procurava: Um vendedor de calções de banho dorme debaixo do seu estendal. Aproximo-me. A escolha é fácil. De entre pedaços de pano disfarçando ser calções, só há um que não engana. É o mais velho, do tom mais vermelho, mais aberrante, do pano mais frágil, com um rebordo branco que esteve na moda 2 segundos,
há coisa de 20 anos.
Nem pensei duas vezes! E que surpresa, em Milão… saber que os meus calções afinal encontraram mais 2 segundos de vida, que o kitsch está na moda e que afinal tinha comprado uns calções muito vintage.