1 de janeiro de 2006

Méliès

O realizador francês Georges Méliès teve a ideia de pintar o fato da actriz de um dos seus filmes. Foi assim que, fotograma a fotograma, em the Impossible Voyage de 1904, Méliès decorou a dança de uma bailarina árabe e introduziu nos seus filmes a preto e branco uma cor diferente: lilás.

Quando estava a começar o caminho de volta, apanhei o combóio que me traria outra vez ao porto de entrada no continente. Mas desta vez vim pelo Sul.
Sozinho (ou quase) na carruagem, decidi abrir a janela deitar a cabeça fora. Comecei a trautear algumas canções. Depois, o trautear transformou-se num cantar alegre, e o cantar quase num grito.
À minha frente lá estava a paisagem amarela, queimada pelo sol, impavida
e amarela. Como sempre.

De repente, vejo surgir um ponto colorido. No meio do pasto amarelo, guardando ovelhas amarelas, apoiado num cajado amarelo, um velho de dentes amarelos fez bailar na boca um sorriso à minha passagem. Mas vestida trazia uma camisa que destoava da paisagem… uma camisa absurda para o velho pastor amarelo.
Uma camisa de uma cor diferente: lilás.