Zinedine Zidane é, por ventura, o melhor jogador da sua geração, incluindo aí todos os que jogaram durante a última década do século passado e a primeira deste. E, no entanto, parece ter sido o jogador que melhor passou ao lado do frenesim mediático em que se transformou a vida dos melhores jogadores do mundo.
Mesmo fazendo parte do flop que foi a equipa dos
galáticos, Zizou terá sido aquele que melhor passou ao lado das controvérsias e até ganhou um lugar no coração dos madrilistas. Isso é algo que, em última análise, nem Beckham, nem Ronaldo, nem Figo o poderão dizer. Mas se Zidane esperava acabar a sua carreira como o príncipe perfeito dentro e fora das quatro linhas, mais uma vez se veio a provar que a natureza humana não é dada a essas coisas da "perfeição".
A confirmar-se o que se vai dizendo por aí, a forma como o melhor jogador do mundo terminou a carreira não foi mais do que o reflexo intenso dos dois aspects que dominam as nossas sociedades: a guerra contra o terrorismo e a omnipresença dos media.
Zinedine Zidane, à altura um jogador muitíssimo experiente, foi enganado por um insulto estranho que, à primeira vista, até podia fazer rir se não fosse um reflexo do mundo
pós-on-going-war-on-terrorism. A verdade é que Materazzi terá chamado
sporco terrorista ao frances de origem argelina e essa passou a ser, hoje, o pior forma de insulto que se pode usar.
Zinedine Zidane, à altura um jogador muitíssimo experiente, também devia saber que uma transmissão de um jogo pela televisão, principalmente se quer se acessível por via digital terrestre, implica que os 3 ou 4 jogadores mais importantes terão uma câmara em cima de si em permanência. Isto serve para que o fã mais acérrimo lhe possa acompanhar todos os movimentos. É só mais uma das vertentes do
voyerismo-tipo-reality-show e Zidane já devia sabê-lo.
A FIFA, uma organização de malfeitores, não quer admitir que o quarto árbitro (que tem um televisor à frente a passar as imagens recuperadas pelo realizador da cabeçada de Zidane) possa ter sido influenciado pelo video. Mas a verdade é foi o quarto e o
quinto árbitros quem decidiram a expulsão e se o fizeram pelas imagens na televisão, fizeram-no muitíssimo bem.
Se existe aqui o risco de o verdadeiro árbitro de uma partida passar a ser um realizador de televisão, é algo a que nos temos que habituar. Os realizadores de televisão já dominam tanto do que sabemos e pensamos, que nem sequer seria assim tão drasticamente diferente tê-los como árbitros de futebol.