27 de fevereiro de 2009

nunca mais é Sábado

Normalmente, os anos sabáticos são aproveitados para se viajar pelo mundo e viver aventuras imprevisíveis.
Eu aproveitei o meu para voltar a casa e aninhar-me no abraço tépido da previsibilidade.




Well, enough with that.

25 de fevereiro de 2009

Dérbi

*









Este fim-de-semana fui ao estádio José de Alvalade assistir ao dérbi de Lisboa. E tudo aquilo que se espera de um dérbi, aconteceu. Um estádio cheio de pessoas a vibrar sonoramente, a ver o mundo de uma só cor, a discorrer ódios no árbitro e a esboçar sorrisinhos sarcásticos enquanto congeminam teorias da conspiração a cada penalti por assinalar. Não é improvável que seja exactamente aquilo que o futebol tem de péssimo que faz dele excelente. E não há sítio como um dérbi para ver essa faceta da humanidade explodir em toda a sua miserável glória.

Há anos que alimento esta ideia de viajar pelo mundo e, em cada cidade, assistir no estádio ao jogo de futebol entre os dois rivais locais. Bem sei que não é um plano de uma verdadeira "viagem à volta do mundo". A não ser que alargasse o modelo a outras modalidades desportivas, os locais onde os dérbis fazem sentido concentram-se entre a Europa e a América do Sul. E mesmo nessas, teria que me limitar a cidades ou regiões que tenham dois clubes que se odeiem visceralmente, onde as pessoas vibrem mais com as derrotas alheias que com as vitórias próprias, em que ganhar o dérbi vale mais que ser campeão. As outra terrinhas, onde isto não acontece, devem ser tão desinteressantes.

Pois bem, decidi pôr-me a caminho com o dérbi de Lisboa. Agora já só faltam:

Porto - Boavista vs. Salgueiros (tenho a impressão de que, com as contas do Boavista como andam, mais depressa vejo este dérbi portuense nos distritais do que o meu FCP a jogar com qualquer um deles)
Barcelona - Barça vs. Espanyol
Sevilha - Sevilha vs. Bétis
Madrid - Real vs. Atleti
Milão - i rossoneri vs. Inter
Turim - Juve vs. il Toro
Roma - Roma vs. Lazio
São Paulo - a tricolô vs. Corinthians
Rio de Janeiro - Fla vs. Flu
Buenos Aires - Boca vs. River
Santiago do Chile - Colo Colo vs. Univ. Chile
Liverpool - the mighty reds vs. Everton
Manchester - Utd. vs. City
Londres - Gunners vs. Hammers
Limburgo - kanaries vs. Genk

Ainda consigo pensar em mais uns quantos na Alemanha, no Uruguay e até na Mongólia onde, diz quem viu, o campeonato de futebol só dura uma tarde mas é vivido com grande intensidade. Se a oportunidade aparecer, não será desperdiçada.

Então, de volta a Lisboa, espero poder concluir o périplo com um Benfica vs. Sporting, na Luz, desta vez. Não direi que é para acabar em beleza, mas faz-me algum sentido fechar assim o ciclo.

* Chamem-me tradicionalista,mas prefiri usar o símbolo do Sporting quando ainda era um emblema e não uma marca.

22 de fevereiro de 2009

Comboio Nocturno para Lisboa


Demorou mas foi. Fui finalmente capaz de terminar a famosa viagem nocturna para Lisboa. E não foi nada fácil. Eu que sou o último a queixar-se de viagens demasiado longas, tive que ir realmente às reservas para não abandonar o comboio a meio e apanhar um avião para casa.

Não é que o livro esteja mal escrito, que seja particularmente desinteressante, que a premissa não cative ou que backdrop filosófico não dê no que pensar. O que falha é a tentativa desajeitada de adivinhar um país e um povo, a passagem grosseira de preceitos culturais do país de origem do autor para os nossos. Podia ser um comboio nocturno para Berlim ou Berna, para Lisboa nunca.

E é isso que atrasa a leitura: a incapacidade, enquanto português, de engolir aquelas personagens. Tudo acerca delas está errado. O autor deve ter lido algures, ou alguém lhe disse, que os ibéricos têm muitos nomes. Daí pôs-se a inventar nomes tirados de famosos escritores e das suas mais famosas personagens. O próprio herói, um médico filósofo, dá pelo nome de Amadeu Inácio de Almeida Prado (um portmanteau de Amadeu de Souza Cardoso e Eduardo do Prado Coelho?) e os seus amigos têm nomes como João Eça ou Jorge O'Kelly.

O contexto social é o da "nata da sociedade lisboeta", da nossa aristocracia. Ora, quem sabe o mínimo acerca do nosso país entende que a nossa aristocracia não é feita de longas gerações e que os nomes de família não querem dizer tanto como noutros lados. A nossa "nata" é tudo menos consistente. Um dos motores das descobertas e da exploração do comércio na Ásia, foi a extrema mobilidade social, o nosso individualismo que nos leva a crer que podemos atingir o estatuto de aristocrata no curso de uma vida, e não raras vezes consegui-lo. Da mesma forma que, frequentemente, um tal estatuto se pode perder não antes da geração dos nossos netos.

Mas o dado mais mal representado é a ditadura salazarista. O autor vê-a e descreve-a como se do nazismo se tratasse. A crueldade e violência de alcunhas como "o carniceiro de Lisboa" (mais uma referência escamoteada, desta vez a Klaus Barbie?) ou o modo como ele retrato o conflito moral do protagonista face a um regime capaz de deter prisioneiros de consciência no Tarrafal, não fazem incidir uma luz de verdade sobre os anos de Salazar. Seria o último a menosprezar as vítimas da ditadura em Portugal, muito menos as do Tarrafal, mas o respeito pela verdade leva-me a lembrar que o Tarrafal não é comparável a um campo de concentração nazi e que a PIDE não era igual às SS, por muito que tenha frequentado os seus campos de treino. O efeito mais insidioso da nossa ditadura não foi a sua violência explícita, mas a lobotomia frontal que operou sobre um povo inteiro e de que mesmo nós, a geração nascida após a sua queda, ainda padece. Esse efeito bem mais duradouro e pernicioso escapa (como tantas outras coisas) por completo ao autor.

E depois há a fixação da personagem principal com as viagens de comboio. Como poderia algum português viver um tal fascínio sem nunca ter saído do no nosso país? Viajando frequentemente entre Lisboa e o Entroncamento? Justapôr uma "cultura da ferrovia" em Portugal, como a que existe nos países do norte da Europa, é totalmente despropositado e descabido.

Resulta óbvio que o autor quis dar um sentido de fim de linha aos acontecimentos e às vivências de um professor de literatura suíço que, de repente, se vê compelido a aprender português e a viajar até ao nosso país. Mas a escolha de Lisboa, quer pelo personagem quer pelo próprio autor, parece ter sido totalmente arbitrária. O autor limitou-se a abrir o Atlas e ver onde ficava o ponto mais ocidental da Europa continental. E fê-lo porque, suponho, o chunnel não estava pronto aquando da ideia original para o livro. O dedilhar a orla costeira da Península Ibérica, deu com o cabo da Roca que, aliás, o autor ignora por completo, fazendo a trama desenrolar-se até ao cabo Finisterra, na Galiza, esse sim com um nome mais sonante. Mas acabou por cismar com essa ideia de "cidade no fim do mundo" e escolheu Lisboa para uma aventura de cartilha, que já tinha na cabeça, independente toda ela do local onde se desenrolasse. Ora, nunca nada é independente do local onde se desenrola, muito menos uma aventura.

E, por isso, não tinha feito mal ao autor apanhar um desses comboios ele próprio.

19 de fevereiro de 2009

Lapa

Gostava de perceber como é que este bivalve insignificante e que ocupa, de resto, um lugar bastante baixo na cadeia alimentar, emprestou o nome a bairros tão típicos de cidades como Lisboa, Porto ou o Rio de Janeiro.

Noticiário das 22h da Antena 1

Esta notícias já tem dias, mas estive fora e sem oportunidade de falar nela.

13 Fev. 2009
Noticiário das 22h da Antena 1
Editor: Mário Rui Cardoso
Uma mulher brasileira, grávida de gémeos, perdeu as crianças quando foi atacada por um grupo de neo-nazis, na Suíça, onde reside*.
A emigrante brasileira, advogada de profissão e casada com um suíço, está a viver e a trabalhar legalmente no país.

Mas porque quero eu saber se ela é advogada?
O facto de ela estar legal no país não torna o ataque mais hediondo porque se ela estivesse ilegal e se se dedicasse à prostituição, isso não tornaria o ataque mais justificável.
Insinuar o contrário é um atentado insidioso ao jornalismo e à cidadania, mais uma prova de que o nosso maior lastro são estes pedaços de défice estrutural ambulantes a fazer-se passar por repórteres e editores, e que vivem de tentar convencer-nos que é resto do país que não presta.

* Deixo aqui mais algumas informações acerca deste acontecimento. A mulher foi esfaqueada e a sua pele cravada com as iniciais do partido neo-nazi da Suiça. A polícia local, quando a mulher se apresentou queixa, surgiu com a teoria segundo a qual ela se teria auto-flagelado.

17 de fevereiro de 2009

Capa DN - 13 Fev 2009


Pobres crianças.
Bem podiam ir arranjando mais umas quantas para ver se se iam revezando.

Ayatollah Ratzinger

We frown upon and even joke about countries such as Iran and South Korea, just as often forgetting about other such as Saudi Arabia and Burma, for their medieval-like rulers. In Islamic countries, we declared ourselves chocked at the level of integration between religion and state affairs and abhore the notion of having a secular leading be the de facto temporal leader of a country. In the most repressive dictatourships, we denounce the random disrespect for the rule of law that an all-empowered leader exerts on his own behalf.

Here, in Europe, we enjoy the civic and public liberties and we are ensured that the obscurantism that came with the crossover between Church and State is well behind us. Or is it?

What happened in the Eluana Englaro case, in Italy, is a sad proof to the contrary. Over the course of the last week or so, His Holiness Pope Benedict XVI dictated what was admissible for a state court to decide or not and, in full conformity, the Italian Prime Minister Silvio Berlusconi tailered a law to prevent that court decision to be carried out. It is this simple. Much like in Iran, a religious leader became the de facto head of temporal power in one of the founding members of the EU. Not unlike South Korea, a head of government and de facto parliamentary majority leader tried to trample over a court decision and whomever else opposed him by means of an arbitrary, ad hoc piece of legislation.

And don't get me started on the nightmare that the public discussion that ensued must have been for the Englaro. I'm not completely sure what the Pope meant when he said that "euthanasia is a false solution and that the only true solution is love". I honestly did not imagine him a Beatles' fan, but the man is full of surprises.

I dont think His Holiness implied that the Englaro didn't love their child, I'm not saying that. But there wasn't much space for the doubt when Silvio Berlusconi said it out loud: that "Eluana's father just wanted to get out of that nuisanse". And the whole idea that she was still alive because, even in that vegetative coma, "she could still bear children" is the final nail in the coffin of the concept that Mr Berlusconi might actually be human.

In the end, it was an 84-year-old wise man that kept the last shred of sanity in Italian politics. His name is Giorgio Napolitano and, actually, the "last shred of dignity and sanity" is his actual job descrition: he is the President of Italy, after all.

The fact of the matter remains that, despite all the gibberish, Mr Berlusconi tried once more to make it into the Italian law a regulation allowing him to take "emergency action" whenever he and his parliament deem necessary. This would allow him to step on courts and presidents alike because, in a country covered in redtape (surely not due to him; he will soon have only been there for seven of the last ten years), he feels the need for a way go around a constitution that he calls "philosovietic". At the end of the day, he wants to create a situation where he can rule the country by day and have the Pope rule its consciences and its doctors by night.

I'll grant you that, il cavaliere: that division between workforce and mind controlling apparatus wouldn't be very sovietic at all.

12 de fevereiro de 2009

Rafa vs. Fededer



O duelo mais intenso e pessoal talvez seja o que opõe Rafael Nadal a Roger Federer. E é intenso e pessoal porque o ténis é, de todos os desportos que não incluem knock outs, a modalidade que melhor reproduzir um duelo até à morte entre duas pessoas.

Não vou entrar nas discussões, perfeitamente válidas e meritórias, acerca do facto de Federer ter perdido 13 dos 19 encontros com o seu rival. E também não vou realçar o facto de o "melhor jogador que alguma vez pisou um court" já ter perdido finais com Nadal em todas as superfícies.

Mas vou arriscar dizer que Nadal é o melhor jogador do mundo. E quem me conhece sabe que sou insusteito quando chega a apoiar seja o que for que venha de Espanha.
E arrisco dize r"Nadal", não porque Federer perde consecutivamente com o maiorquino por um motivo psicológico não muito bem explorado, que o leva a sair do estado zen em que, normalmente, voa sobre as partidas. Não é pela força da vontade, ou pela competitividade que Nadal ganha. O jogo moderno é feito de pegas de partir o pulso, bolas maiores e mais pesadas, raquetes e equipamentos mais leves e aerodinâmicos, encordoamentos mais leves e resistentes. Tudo isto tornou o jogo mais rápido e exigente e a única forma de adaptar os jogadores a esse realidade é dar-lhes uma preparação física invulgar, mesmo num atleta de alta competição.

Ora, Rafa Nadal é de uma noma geração de tenistas. O actual n.1 passa por cima de 3 ou 4 júniores por treino, qual campeão de boxe a esmagar jovens desconhecidos durante a preparação para um grande combate. Ele não é só mais rápido que o Federer, ele é mais rápido que as pancadas dele. E como se não bastasse chegar cedo a cada bola, Nadal desenvolveu um arsenal de pancadas devastadoras que, associadas ao furacão que lhe sai da mão canhota, deixam qualquer adversário de rastos, incluindo o mestre zen.

Pessoalmente, prefiro o estilo do Federer; quem não prefere? Ele é um cavalheiro à moda antiga, um porta-estardarte da perfeição técnica, da elegência, daquilo que o ténis devia ser, mas já não é. E é óbvio que não é um jogador completamente fora de contexto, bem pelo contrário. Estamos a falar de um jogador com um talento inacreditável associado a uma vontade sereníssima de vencer, que dominou o circuito de uma forma que todos os outros campeões admitiram nunca ter sido vista.

Mas agora viu-se ultrapassado por um jogador que combate fogo com mais fogo e velocidade com mais velocidade ainda. De tal forma que, às vezes, parece que estamos diante de um combate entre um exímio espadachim, e um marine armado com uma semi-automática.
Game, set and match: Nadal.

11 de fevereiro de 2009

Detesto pessoas que não tentam

Quando tinha uns 16 ou 17 anos, depois de anos a fio sem que isso me acontecesse, voltei a provar o meu pequeno-almoço de eleição : Nestum* com mel. A eleição, para que conste, foi feita pela minha mãe.
A partir dessa altura, comecei a questionar-me se as memórias factuais e pessoas seriam mesmo as que mais nos marcam. Aliás, comecei a duvidar de toda essa corrente que tenta menosprezar a funcionalidade animal do homem só porque alguns dos nossos sentidos mais primários, como o olfacto ou o paladar, nos parecem atrofiados em relação aos dos outros animais. Afinal não, cheguei à conclusão de que as nossas melhores memórias, a que melhor nos transportam para dias melhores, estão precisamente associadas a cheiros e a sabores.

Hoje, uns 10 anos mais mais tarde, apercebi-me do reverso desta conclusão: as nossas piores memórias, o que melhor nos transporta para dias piores, são mesmo memórias factuais e pessoais. Nomeadamente, a memória factual e pessoal de porque eu e outra pessoa nunca haveríamos de funcionar.

* Nestum is a registered brand of the Societé des Produits Nestlé, S.A., Vevey, CH. And these, let me tell you, are just some of the loveliest people on Earth.

10 de fevereiro de 2009

Promontório da Lua

Se notaram o desaparecimento de alguns posts deste blog (se não notaram, este post não é para vocês), quero que saibam que os desloquei para outro lado. Estavam desterrados aqui, enquanto esperavam que lhes arranjasse uma casa nova.

Bem sei que o conceito e até o estilo são tudo menos originais. Mas, como uma vez disse o Stephen Colbert, eu não estou a imitar, estou a emular. A diferença reside no facto de, se eu estivesse a imitar, ter de passar um cheque para os direitos de autor. E assim não.

9 de fevereiro de 2009

LeBron vs. Kobe



Começamos pelo basket. Desculpa se não lhe consigo chamar "basquete". Não terei problemas e chamar ao tennis de ténis e muito menos ao football de futebol, mas a palavra "basquete" faz-me uma certa confusão.

Sei também que as incidências do FC Porto - SL Benfica desta noite ainda estarão nas mentes e nas línguas de toda a gente e que as lágrimas do Federer ao perder com o Nadal também tiveram o seu tempo de antena.

Mas começo pelo basket, precisamente na noite em que os dois "nomeados" a melhor jogador da actualidade se enfrentaram num court (mais um inglesismo, live with it). Foi em Cleveland, na Quick&Loans Arena, que os LA Lakers de Kobe Bryant foram recebidos pelos Cavaliers de LeBron James, numa partida há muito esperada. Não vou manter o suspense (ah, um francesismo agora, vivez avec ça), os Lakers venceram 101-91, finalmente acabando com a invencibilidade de king James e os seus cavaleiros em casa.

Estará decidido, então? Kobe vence? Nem pensar.
O jogador que melhor interpreta o jogo moderno é LeBron James. É mais alto, mais atlético, o seu jogo é mais físico, fazendo dele um "falso base" (point forward, em inglês, explica melhor o que ele faz) com uma capacidade de explodir para o cesto que, não faltado também em Kobe Bryant, é a imagem de marca de king James. Dirão os mais entendidos que isso de postes e extremos com jeito para a bola talvez seja um tributo à figura de Magic Johnson e, principalmente, de Larry Bird. É verdade que foram estes dois titãs que trouxeram o jogo da antiguidade para a era moderna, mas o que James faz é diferente. O jogo dele reflecte tudo aquilo em que o basket se tornou: um campo de batalha onde se luta com a vida pela mais ínfima réstia de street cred, onde ser mais forte é mais importante até que ganhar. E é precisamente nisso que LeBron ganha. Os episódios são multiplos e variados, desde o jogo em que mandou calar a mãe, até ao outro jogo em que tranformou uma noite desinspirada numa exibição fenomenal só porque a namorada de um dos adversários o chateou. King James raramente perde e nunca, nunca perdoa.

E ainda assim, LeBron James é um exemplo de desportivo, mesmo dentro do campo. Se mandou calar a mãe foi porque mesmo ela não percebeu como ele que o jogo é uma luta mas que a luta se ganha enfiando a bola no cesto e não enfiando o punho na face do adversário, coisa que ele nunca, nunca faria. A sua relação com a mãe, solteira e adolescente quando o pequeno LeBron nasceu, não é fácil, mas a maneira como ele ultrapassou tudo isso é mais um testemunho à sua qualidade pessoal.

E para lá das 4 linhas, acima de tudo o resto, reúne uma característica essencial aos grandes ícones: não se leva demasiado a sério. Isso faz dele uma estrela dentro e fora do campo, capaz de se adaptar a todos os contextos que a cobertura mediática exaustiva exige destes atletas. E também nisso suplanta Bryant e as suas múltiplas idas ao tribunal.

Kobe, sem duvida um enormíssimo campeão, tem uma história que, de tantas vezes comparada com a de Micheal Jordan, quase mais parece um spin off de um argumento que está a deixar de cativar. Ele é o jogador que assume a responsabilidade do último drible, do último lançamento, do último ponto que dá a vitória. E nisso Kobe é e será melhor que James enquanto tiver forças para jogar. Mas isso já não é o jogo moderno. O jogo moderno é feito de contras e de afundanços (eu devia estar a escrever este post em inglês, too late now), mais do que de roubos, assistências e lançamentos a cair para trás a queimar o último segundo.

Nada disto quer dizer que o Kobe Bryant seja uma figura má ou um jogador ultrapassado e que o LeBron James um exemplo de cândida alvura, um farol do jogo para o futuro. Ambos têm personalidades multifacetadas e isso reflecte-se nas respectivas imagens públicas e ambos têm talentos infinitos.

Mas James vive num mundo que condiz mais com o mundo em que o resto de nós vive. É poderoso e perfeitamente imprevisível, como realça o guia do tour (um inglesismo vindo de um francesismo) aos balneários dos Cavaliers. E é por isso que eu acho que LeBron James é o melhor jogador de basket da actualidade.

4 de fevereiro de 2009

Top 1

Declarado o meu amor pelo desporto e por quem se importa, quero lançar as bases para uma pequena série de discussões e, de preferência com a convincente força dos meus argumentos, terminá-las à nascença.

Há três desportos que, seja porque sempre gostei de jogar ou porque sempre gostei de ver, considero os meus favoritos. Sei que vou estar a desiludir todos aqueles que acham que alguém com o meu nome devia ter uma preferência e uma só, e que essa devia ser o volley de praia. Pois bem, lamento desapontar-vos mas nem as palmadinhas marotas do Presidente Bush me fizeram prestar mais atenção à modalidade. E acreditem que se isso não funcionou, nada funcionará.

As inanes discussões serão à volta de quem é hoje o melhor executante de cada um desses desportos, e porquê.
Declaro abertas as inanidades.

3 de fevereiro de 2009

Sports Night



Poder-se-á incluir o dramaturgo e guionista Aaron Sorkin no grupo de personagens que deu o salto do desporto para a política. Bem, na verdade, tendo em conta que Aaron Sorkin ascendeu à notoriedade com "The American President" e, principalmente, com a famosa linha "I want the truth. You can't handle the truth" de "A Few Good Men", provavelmente não é legítimo incluí-lo neste grupo mas eu vou fazê-lo na mesma.

Grandemente inspirado na relação profissional entre Keith Olbermann e Dan Patrick, de que dei apenas o exemplo mais recente no post abaixo, o criador do aclamado "The West Wing" teve uma primeira incursão pelo mundo das séries televisivas com este "Sports Night". Trata-se de uma espécie de sitcom que, se não merecesse o nosso respeito por tudo o resto, teve o maravilhoso condão (não sem comprar uma guerra interna) de retirar os risos de pessoas mortas do fim de cada piada, transformando a série de uma comédia de situação num enredo dinânico, mas sempre espirituoso. E é a química entre o sorriso silencioso e o propulsionar da trama pelo walk and talk, com os problemas reais "por trás da câmara" de pessoas de quem não temos acesso senão à face pública, que viria a fazer do "The West Wing" um êxito multi-galargoado.

Tal como a paixão do desporto passa pelo facto de ser uma imitação da vida, um campo de batalha simulado num tempo em que a guerra aberta é inconcebível, através das aventuras e desventuras da equipa que produz e traz até nós um programa desportivo, Sorkin brinca com muitas das teses que depois vai implementar nas aventuras e desventuras de quem tem que tomar decisões com impacto verdadeiro.

2 de fevereiro de 2009

Countdown, with Keith Olbermann


Há uma ou duas personagens da história do panorama político-mediático dos Estados Unidos que deram o salto do desporto para a secção das coisas sérias. Não, não me estou a referir ao Presidente Bush, até porque não tenho a certeza que, no caso dele, o passo alguma vez tenha sido dado. Estou a falar de casos em que esse salto foi não só conseguido, mas quem o deu consegue ainda saltar entre comentário desportivo e o político de um modo de que o Rui Santos não seria capaz, nem que fosse um barbeiro de verdade.

Keith Olbermann terá sido o último desses casos e, portanto, o exemplo que acompanhei melhor. Há um momento marcante na sua carreira em que, como podem ver abaixo, ele realinhou toda a esfera da culpa do 11 de Setembro de 2001 na administração que estava no poder a 11 de Setembro de 2001. A partir deste programa, deste segmento em especial, foi-lhe confiada a tarefa de lutar pelo mesmo ar que o monstro sagrado da opinião conservadora, Bill O'Really, com um lugar de destaque na estação de televisão concorrente e onde teve (e continua a ter) resultados interessantes. E, em certas ocasiões, como a do Super Bowl deste fim-de-semana, com a oportunidade de voltar com o seu comentário político àquele que foi o seu habitat natural.