30 de outubro de 2008

Cais das Colunas

Uns com os dedos enleados nas grades, outros com as mãos nos bolsos, os velhos juntaram-se num magote.
Por entre os gritos das gaivotas, o braço mecânico estende ao fundo do rio os gestos do homem dentro da máquina. Às garfadas, arranca calhaus para um monte que faz ao lado. Desenterra anos de esquecimento.
Os velhos olham quase mudos, não fossem os sorrisinhos que soltam enquanto batem nos ombros de outros, um calhau a menos até ao fim da obra.
O braço mecânico move-se destro pelo ar, como uma dança. Sem pressa mas sem perder tempo em dúvidas, esvoaça e mergulha a buscar mais um desses sete palmos.
Lá em baixo, jaz ansioso um cais outrora branco que vive já nos sorrisinhos soltos de um magote de velhos. Os olhos fogem, inquietos, para as duas colunas que se já se erguem. A máquina volta a mergulhar.

Simples

Tenho sede de fácil
Uma figura, um objecto,
Uma forma,
Um círculo,
Uma sombra,
Uma dimensão,
Disparam nos meus olhos
Como fotogramas
Em rápida sucessão.
Antes de adormecer
Um silêncio escuro
Uma noite longínqua