20 de fevereiro de 2007

Auto-determinação

É óbvio que sou pela auto-determinação dos povos.

Mas, neste país em que estou (o reino da Bélgica, para os menos contextualizados), existe uma grande pressão para que uma das partes se torne independente: a Flandres.
A argumentação é a de sempre:
1. A outra parte do país é mais pobre e só nos está a a consumir a riqueza pelos impostos.
2. Eles são completamente diferentes de nós, falam uma língua diferente, têm costumes e tradições diferentes.

A partir daí, se é este o argumento, acho que se devia partir o país em regiões. E as regiões em cidades e campo e as cidades em bairros, os bairros em ruas...

Quando cada casa fosse uma nação independente - sim, porque em cada rua há sempre casas mais ricas e mais pobres - é que começava a diversão.

Os pais haviam de querer tornar-se independentes dos filhos. Se há relação que existe uma parte da população que não compreende a outra e paga bem pago a sua perguiça, é a relação entre pais e filhos.

Declarada a independência, cada pessoa um estado, começariam os conflitos intra-corporais. A cabeça, raínha do corpo, não havia de querer ter nada a ver com as mãos sujas e toscas
e a palma de cada mão, argumentando ser diferente de cada um dos dedos, havia de exigir o seu direito à auto-determinação.

Não haveria osso ou tecido que sobrevivesse até que cada elemento da tabela periódica não declarasse a independência. Imagine-se se o ouro se havia de misturar com o ferro...

Depois entra a ética. Será que o ouro, ele próprio, seria capaz de conviver com um passado de vergonha. Não seria o ouro nazi, arrancando ao dente do judeu, ostracizado ele próprio pelas restantes moléculas que "não concordam com a sua ética".

Cada átomo então... cada átomo um estado auto-determinado. E mesmo assim não chega. O que diriam os electrões, ocupando as suas órbitas, dos electrões que estivessem nas outras. E o que diriam dos próprios electrões que ocupam a mesma órbita mas que, naquele momento, não estão no mesmo sítio. Se há diferença que nunca será resolvida, é a do "eu" estar num sítio e o "ele" estar necessariamente noutro. Quanto a isso não há volta a dar-lhe: auto-determinação.


Ficariam pois os protões e os neutrões sozinhos no universo, como era tradição e costume acontecer nos tempos idos do big bang. E talvez nessa altura, como aconteceu com aquele protão revolucionário - e extremamente mal visto - do átomo de hidrogénio primordial, um deles volte a dizer:

- Sabes, neutrão, somos em tudo iguais, pesamos o mesmo, temos a mesma matéria dentro de nós. A única diferença é que eu, protão orgulhoso de mim próprio e dos meus irmãos, sou positivo (+)! É essa a minha grandíssima e inimitável virtude e, por isso, nunca seremos iguais.

Mas será, neutrão, que és menor que eu?

E talvez nessa altura, volte a nascer qualquer coisa de bom.

14 de fevereiro de 2007

paragem

Este blog, que de activo nunca teve muito, vai agora ficar completamente inativo. O regresso, se alguma vez fizer sentido, será para cumprir o papel que era para ser o seu desde o princípio.
Até lá, podem encontrar-me deste lado.

A triste sina do marinheiro...

É certo e sabido que, quando se vive no meio de pessoas estrangeiras, se ganha uma nova consciência do sítio de onde vimos e do quanto isso nos identifica. E é verdade que os que partem são, normalmente, mais ciosos da sua origem e do que ela respresenta.

Mas alguém que vive algum tempo no meio de pessoas estrangeiras, compreeende os seus vícios e, se lhe derem tempo suficiente, até os adquire. E quando regressa para junto da família e dos amigos já não é exactamente como eles. Pior, já vê para além deles e passa demasiado tempo a prestar atenção ao do que eles são feitos. Um bocado como alguém que vê um mau film de stop animation, em que se percebe demasiado a impressão digital sobre a plasticina, percebe como é que as coisas são feitas e perde-se o feitiço que faz correr o tempo como se nada fosse.

E depois volta ao estrangeiro, e depois a casa outra vez...

E acaba, ao fim e ao cabo, quando está no meio de estrangeiros, por ser um exemplo sublime e acabado daquilo que já não consegue ser em casa.

12 de fevereiro de 2007

The Frames

This song is the optimistic tale of a dog with three legs,
that is dying of cancer,
in a sinking boat,
in the middle of the sea...

There is always hope.

a triste sina do marinheiro...

... com saudades da terra quando está no mar
e com saudades do mar quando está em terra.

1 de fevereiro de 2007

da Tolerância

Passei muito tempo a pensar na diferença que existe entre o eu e o outro. Mas acabei a pensar muito na diferença que não há.

Eu acredito na Tolerância e nisso sou intransigente.

Amanhã parto desta viagem de ultimamente, agarrado os conceitos vividos nos outros e atráves deles. Amanhã parto e deixo-os a quem os resolva. Parto na viagem de viver o significado último do meu credo, intransigentemente,
ou voltar.