Dois dias na Bruxelas europeia e uma coisa já se tornou clara.
A «Bolha» em que se transformou o centro de decisão da União
- a denominação é do Filipe Rufino e serve para descrever a Praça Schuman, o magnífico edifício da Comissão, com o do Conselho do outro lado da rua -
é uma espécie de experiência antropológica.
O mote da experiência é: e se os políticos e os tecnocratas fossem todos metidos num sítio onde não tivessem
mesmo que dar satisfações a ninguém?
Foi assim que nasceu um monstro: o eurocrata.
Claro que esta experiência, que do ponto de vista da bio-ética é completamente inaceitável, teve que ser mantida em segredo da maior parte das pessoas e é por isso que quase ninguém sabe o que é ou como funciona a União Europeia.
A verdade é que havia demasiadas perguntas por responder acerca da natureza dos políticos e a ciência não podia ficar de braços cruzados.
A conclusão é que os políticos, no seu estado natural em que não têm que pensar em mais nada que não seja
político, tendem para a criação de uma sociedade fechada em que os outros que estão lá fora são vistos como inferiores, atrasados, empecilhos até dos formidáveis intelectos de quem está dentro da «Bolha», que rapidamente criam à sua volta.
Foi neste ambiente que se chega ao último patamar da política: o
lobbying europeu... e toda a gente tem que ter um lobby. Há cidades europeias capitais e não-capitais,
companhias de petróleo, gaz natural, aeronaútica, alimentação, armamento, brinquedos, informática,
províncias almãs, belgas, francesas,
associações de artistas, ordens de advogados...
Tudo o que tem alguma coisa a ganhar com a «Bolha» tem a sua
empresa de consultadoria ou o seu
escritório de advogados a trabalhar, a emitir pareceres jurídicos independentes, a elaborar relatórios para a Comissão e a ter reuniões.
O objectivos último: convencer os eurocratas seja do que for... de que o aquecimento global agora também já é irreversível e porquê estar a investir em painéis solares se a emissão de gazes vai cobrir o Sol nas principais zonas industrializadas da Europa,
de que a compra de tanques assegura o emprego a milhares de famílias e está dentro do dever sagrado de manter o modelo social europeu intacto,
convencê-los de que dar dinheiro àquela empresa ou beneces àquela instituição é a atitude mais inteligente.
E não há nada que um eurocrata goste mais do que ser chamado de
inteligente.
Carlos Miguel Maia